Quem nunca fez uma coleção, por menor que tenha sido? O colecionismo é uma prática habitual, mas, quando se transforma em algo exagerado, é sintoma de um problema psicológico e pode ocasionar um transtorno obsessivo compulsivo.
Selos, relógios, chapéus, autógrafos, miniaturas, filmes, postais, caixas de fósforos, moedas antigas, figurinhas, revistas em quadrinhos, livros, souvenirs, dedais, chaveiros, cadernos... A lista de objetos de coleções comuns por aí é tão extensa como a lista das razões que levam as pessoas a iniciarem e ampliarem cada vez mais suas coleções.
Alguns colecionadores, como Marcos L.F., de 52 anos, começam seu hobby pelo simples prazer de reunir itens, enquanto outros buscam uma maneira de relaxar nas horas vagas.
Também há aqueles como Margarita G.H., de 37 anos, que se iniciam na atividade de maneira despreocupada, juntando objetos sem maiores pretensões, até descobrirem o prazer da prática e não conseguirem ou não quererem parar.
Há ainda quem comece por um fato específico, como ao ajudar os filhos colecionadores ou ao descobrir e desfrutar de uma coleção de outra pessoa.
No entanto, em determinadas ocasiões, o desejo de colecionar, em princípio prazeroso e inofensivo, pode se transformar em um transtorno psicológico caso sejam ultrapassados certos limites, como acaba de demonstrar uma recente pesquisa feita por especialistas da Universidade de Granada, na Espanha.
Do hobby à obsessão
Quando esta atividade é cultivada de forma controlada, colecionar objetos é benéfico do ponto de vista psicológico, já que permite desenvolver habilidades e atitudes muito positivas para o indivíduo, como a perseverança, a ordem, a paciência e a memória, explica a professora Francisca López Torrecillas, do Departamento de Personalidade, Avaliação e Tratamento Psicológico da Universidade de Granada.
Quando esta atividade é cultivada de forma controlada, colecionar objetos é benéfico do ponto de vista psicológico, já que permite desenvolver habilidades e atitudes muito positivas para o indivíduo, como a perseverança, a ordem, a paciência e a memória, explica a professora Francisca López Torrecillas, do Departamento de Personalidade, Avaliação e Tratamento Psicológico da Universidade de Granada.
Mas, segundo a especialista em dependência, colecionar objetos também pode se transformar em um problema, já que "a excessiva pressão e o bombardeio publicitário para promover todo tipo de coisas colecionáveis pode fazer com que as pessoas com tendência a sofrer um transtorno obsessivo compulsivo desenvolvam esta patologia psicológica".
A professora afirma que nos últimos anos "foi detectado um aumento muito grande" de casos em que o colecionismo exagerado gerou um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ou um vício nas compras. "Colecionar objetos de maneira exagerada é um sintoma do TOC, um grave problema psicológico (que tem como uma de suas variantes a 'Síndrome de Diógenes', que é acumular grandes quantidades de lixo dentro de casa), e da dependência do ato de comprar, duas doenças mentais que afetam aproximadamente 12% da população".
Segundo Francisca, "características como uma excessiva necessidade de controle, o perfeccionismo e a meticulosidade são muito frequentes nas pessoas que têm como hobby colecionar objetos, mas também estão muito relacionadas com os transtornos psicológicos mencionados".
Para a pesquisadora, o colecionismo pode se transformar em obsessão - e, portanto, em um problema - "naqueles sujeitos que apresentam uma vulnerabilidade pessoal", isto é, "têm baixa autoestima, dificuldade de se relacionar e de lidar com obstáculos".
Quando surge este sentimento de ineficácia pessoal, "o colecionismo compulsivo os ajuda a se sentir melhor", segundo a especialista. No entanto, Francisca diz que ainda é necessário "aprofundar os estudos sobre este âmbito de pesquisa".